A criação do animal terrestre mais abatido no mundo deve ser repensada pela indústria e pelos consumidores.
Amontoados em galpões imensos de granjas, praticamente sem espaço para locomoção e com procedimentos de abate questionáveis: essa é a qualidade de vida que a indústria de frangos de corte tem oferecido aos animais mais abatidos do mundo. Mas será que é possível adotar boas práticas em busca de melhorar a vida destas aves?

Em 2020, cada brasileiro comeu em média 45 kg de carne de frango, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o que representa um aumento de 5% em relação ao que foi consumido em 2019. Além dessa crescente demanda interna, o Brasil é o maior exportador de frango do mundo, o que fez com que nosso país abatesse mais de 13 milhões de toneladas dessas aves no ano passado. Essa produção em larga escala representa uma cadeia de problemas que afetam não só os frangos, mas também a saúde humana e a de todo o meio ambiente. Portanto, saber como aconteceu a produção do frango que chega embalado no supermercado é importante para repensarmos nossa alimentação e exigir melhores práticas por parte da avicultura industrial.
A realidade da produção de frangos

- Falta de espaço: os frangos, assim como todos os animais, precisam de espaço, local de socialização e exploração, entre outras necessidades para um nível satisfatório de bem-estar, mas a realidade da superlotação dos galpões sequer permite que as aves consigam se deslocar ao longo do galpão.
- Uso desenfreado de antibióticos: esses medicamentos são utilizados para que os frangos ganhem peso rapidamente, porque facilitam a absorção dos nutrientes da ração e evitam que as aves tenham diarreia. Porém, esse uso indiscriminado de antibióticos cria condições para que surjam bactérias resistentes a esses fármacos, as superbactérias, o que impossibilita o tratamento de doenças causadas por esses patógenos, inclusive em humanos, já que 70% dos antibióticos administrados nos animais são utilizados para o tratamento de doenças em humanos.
- Aceleração de crescimento: enquanto uma ave normal atinge menos de 1 kg de peso em quase 60 dias de vida, as de crescimento rápido através de seleção genética apresentam 2,5 kg em 40 dias, ou seja, ganham 50 vezes o valor de seu peso inicial em pouco mais de 1 mês. Isso acaba refletindo em problemas de saúde nos animais, pois como os músculos se desenvolvem muito rápido, seus ossos e órgãos vitais não acompanham esse ritmo, gerando problemas cardiorrespiratórios, locomotores e metabólicos. ⠀
- Ar saturado de amônia: é comum que o ar dos galpões de engorda dos frangos apresentem altos níveis de amônia, em função dos dejetos das aves, o que dificulta a respiração das aves e dos trabalhadores das granjas.
- Desenvolvimento de doenças: a produção em larga escala de frangos é propícia para o desenvolvimento de colibacilose e salmonelose aviária, que culmina na contaminação da água e solo, não apenas pelas bactérias em si, mas também pelo excesso de antibióticos utilizados. Alguns dos problemas de saúde causados por E.coli em seres humanos são: gastroenterite, infecção urinária, infecção biliar, pneumonia, meningite, sepse, entre outras.
- Abate: Com apenas seis semanas de idade, os frangos já estão prontos para o abate. Nesse curto período de existência, o que se vê são frangos presos em corpos grotescos e enormes, com mobilidade reduzida. Na hora do abate, os frangos são pendurados vivos e conscientes de cabeça para baixo em estruturas metálicas. Além de sentirem dor com o peso do corpo pressionando suas pernas contra essa estrutura, a posição invertida não é nem um pouco natural para as aves, que ficam estressadas e começam a bater suas asas numa tentativa de se levantar.
Como melhorar a vida dos frangos

Enquanto surgem cada vez mais compromissos públicos da indústria sobre boas práticas na criação de animais como o suínos e galinhas poedeiras, o bem-estar dos frangos segue sendo negligenciado em detrimento da maximização de lucros a qualquer custo. A Alianima dialoga com a indústria da avicultura de corte brasileira para rever esse cenário e implementar práticas de bem-estar animal, como:
- Reduzir a lotação de animais no galpão;
- Fornecer enriquecimento ambiental;
- Criar de raças de crescimento mais lento;
- Incentivar uso de alternativas ao antibiótico, como enzimas e óleos essenciais;
- Tornar o método de abate mais eficaz e evitar a prática de perdura;
- Adquirir selo de certificação do bem-estar animal.
Ao consumidor, cabe sempre a reflexão: vale a pena esse sofrimento para a conveniência do seu paladar? Pensar em reduzir o consumo é um ótimo começo para tentar uma alimentação ética que não contribua com práticas cruéis que desrespeitam esses seres sencientes.
Saiba mais sobre nossa atuação na Indústria de frango de corte no Observatório Animal.