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Com avanço de cepa da gripe aviária milhares de animais são abatidos

Sacrificar milhões de animais confinados em sistemas de produção para conter cepas de vírus da gripe aviária é um placebo para problema recorrente – e os animais não deveriam estar pagando com suas vidas. 

A humanidade parece não seguir o sábio ditado popular que diz  “é melhor prevenir do que remediar”. Vivemos nossas vidas com a pretensa segurança de que “para tudo tem remédio”, mas além disso não ser verdade, essa ideia afrouxa nossos esforços políticos na revisão e contenção de práticas humanas que comprovadamente suscitam o surgimento de diversas doenças como, por exemplo, a influenza aviária, conhecida popularmente como gripe aviária.

Desde o último trimestre de 2021, um novo surto de gripe aviária vem acometendo a Europa que soma, até a finalização deste texto, 950 criadouros contaminados. No início de janeiro de 2022 o Reino Unido registrou sua primeira infecção humana de gripe aviária da cepa H5N1, popularmente conhecida como a gripe do frango, uma das poucas cepas de gripe aviária que passam para humanos (por enquanto). Ela tem alta taxa de letalidade e já matou, desde 2003, 456 pessoas no mundo, metade das pessoas que foram infectadas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Mas se é gripe do frango, por que ela afeta humanos? Veja a explicação da Médica Veterinária Patrycia Sato: 

Apesar de vários fatores contribuírem para a disseminação da influenza aviária e o surgimento de diversas variantes, como a migração natural de aves, a venda de animais silvestres vivos, o comércio global e o deslocamento internacional de pessoas, é inegável que a pecuária intensiva é terreno fértil para a propagação de doenças. A interação prolongada entre homens e outros animais nos sistemas de produção lotados em espaços diminuto, medidas de biossegurança negligenciadas, invasão contínua das terras agrícolas em áreas selvagens, e o uso indiscriminado de antibióticos são alguns dos fatores que tornam os sistemas de criação intensivos um campo minado para o surgimento de doenças. 

A contaminação laboral é um ponto preocupante, já que é no contato direto entre o animal que uma pessoa pode ser contaminada, e vice-versa. Nas aves, o vírus da influenza ​​é  eliminado nas fezes e nas secreções respiratórias e pode ser transmitido através do contato direto com secreções de aves infectadas, ou por  fezes,alimentos e água contaminados, além depermanecer por muito tempo no ambiente, podendo inclusive se espalhar por objetos (sapatos, roupas, equipamentos), tornando os humanos que trabalham nos galpões alvos mais propensos de contrair o vírus. 

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We Animal Media

Ainda que H5N1 tenha baixa transmissibilidade entre humanos e ainda representa riscos baixos à saúde pública, quando um surto de gripe aviária acontece, outras milhões de vidas serão impactadas: as das próprias aves. A transmissibilidade entre elas é altíssima, e mesmo as que não morrem pela doença são abatidas, saudáveis ou não, para conter a disseminação do vírus. Ainda que a legislação permita esse tipo de manejo, o abate em massa de animais aborda apenas os sintomas do surto, não ataca a raiz da questão, fere o bem-estar animal (já que dificilmente o abate humanitário será aplicado) e não sugere o enfrentamento necessário para prevenir outros surtos. 

E o que mais parece alarmar a indústria e os governantes é o prejuízo econômico que a contaminação poderá causar, como restrições comerciais,  perda de toneladas de carne e até a recusa das pessoas em consumirem esse tipo de alimento. Apesar dessas serem preocupações importantes dentro do aspecto socioeconômico, por que as imagens de milhares de animais sendo descartados – as verdadeiras vítimas da gripe até agora – não chocam?

Entre 2003 e 2007, mais de 20 países da Ásia, África e Europa registraram casos de gripe aviária em animais e estima-se que pelo menos 200 milhões de aves domésticas (de uma população mundial total de 10 bilhões) morreram ou foram abatidas como resultado do H5N1. Neste surto atual, notícias já apontam para números expressivos de mortes de aves. 

Por enquanto, as cepas de influenza que estão circulando no Brasil são a H1N1 e H3N2,. Porém, se não exigirmos sistemas de produção menos nocivos aos animais, ao meio ambiente e aos humanos, as variantes continuarão se adaptando e poderão implicar em epidemias e até pandemias altamente letais. Além disso, são necessárias atitudes menos antropocêntricas da nossa parte para os animais, que além de morrerem aos milhões diariamente em sistemas de produção para o consumo humano, são as maiores vítimas dessa gripe, e não os algozes. 

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o que é um chester

Afinal, o que é um chester?

Você já viu algum chester vivo? Seria um tipo de frango? Ou apenas uma marca? Desmistificamos aqui todos os mistérios que rondam esse animal, fruto de seleção genética, consumido vastamente nas ceias natalinas brasileiras.

A forma como celebramos o Natal no Brasil é muito curiosa, já que, mesmo com as altas temperaturas, decoramos a casa com pinheiros e flocos de neve, sempre na esperança que o bom velhinho traga – via chaminé que não possuímos – presentes embrulhados com papéis bonitos que rasgamos e jogamos no lixo. O ponto alto dessa celebração que absorveu muito da cultura norte-americana e europeia é a mesa da ceia, geralmente composta por várias opções de carne animal assada, como o peru, o lombo, o tender e o…chester! Esse último, o chester, é um popular advento nacional, mas que assim como outros produtos oriundos de animais de produção, apresenta problemas de bem-estar animal na sua cadeia produtiva por conta da seleção genética e das condições de confinamento.

o que é um chester
Reprodução Google

Para acabar logo com o mito: o Chester® é uma marca registrada da Perdigão. Trata-se da mesma espécie que o frango convencional, só que maior. Com o objetivo de disputar mercado com o peru da Sadia, que na época era concorrente da Perdigão (hoje as duas marcas são da BRF), o Chester é originado de uma seleção genética que promove o crescimento da região do peito maior que o natural e, segundo a fabricante, essa ave tem 70% da carne concentrada no peito e nas coxas. 

O grande problema é que a engenharia genética seleciona características desejáveis para maior produtividade e lucro, e essas intervenções atrapalham o desenvolvimento natural dos animais, gerando problemas locomotores (ósseos e articulares) dolorosos, sobrecarga de coração e pulmões, lesões de pele e nas patas. Isso faz com que as aves deixem de comer e interagir decentemente durante sua curta vida. O abate não foge muito do que acontece com os frangos da indústria alimentícia: o “chester” é abatido com mais ou menos 60 dias de vida, enquanto o frango “comum” é abatido aos 42 dias. 

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Por 40 anos (até 2020!), a Perdigão não divulgou imagens de um “chester vivo”, o que gerou muitas especulações e incutiu no imaginário coletivo a ideia de uma espécie de animal única, uma iguaria indispensável, reforçando com essa falta de transparência a dissociação da carne que encontramos nos congeladores dos supermercados com um ser vivo – e nesse caso, um ser vivo selecionado geneticamente que provavelmente sofreu muito para chegar até a nossa mesa enfeitada com pinhas natalinas. 

Que tal repensar sobre a necessidade do chester e todo produto de origem animal na sua ceia? O reino vegetal apresenta diversas opções que farão a sua celebração ser mais acessível para a realidade brasileira e sem sofrimento animal. Baixe agora o e-book “Ceia sem Sofrimento”, um projeto da Alianima em parceria com a Chef Samanta Luz, que apresenta, gratuitamente, um Menu completo 100% vegetal para as celebrações de fim de ano.