Decidir o que colocar no prato é uma decisão política a ser tomada diariamente por aqueles que podem escolher

No mundo é produzido uma quantidade e diversidade de alimentos suficientes para saciar toda a humanidade: de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), são cerca de 2,5 bilhões de toneladas de grãos, entre soja, milho e trigo. Mas, infelizmente, grande parte do destino dessa produção é para a alimentação de animais de produção, como aves, suínos e bovinos, que depois são abatidos para serem vendidos como, justamente, alimento.
Para alimentá-los, usa-se em média cerca de dez vezes mais calorias do que o disponível na carne – ou seja, um desperdício de aproximadamente 90% das calorias oriundas dos cultivos vegetais usados para a alimentação desses animais. Esse destino do alimento para a pecuária tem acarretado muito sofrimento aos animais, prejudicando o meio ambiente e aumentando significativamente a parcela da população global que enfrenta a fome – que aumentou depois da pandemia de covid-19, atingindo 10% da população mundial. Começar a praticar uma alimentação mais ética é aspecto fundamental para a mudança dessa realidade.

Quando você escolhe um alimento (se é que você pode fazer isso), não se trata apenas do consumo de comida e seus nutrientes. Todo um formato de produção e suas consequências são automaticamente aprovadas pelo consumidor, mesmo que isso ocorra sem seu conhecimento, e nesse processo fomentamos indústrias e práticas que nem sempre estão alinhadas com os nossos princípios éticos.
Portanto, para uma tomada de decisão mais consciente e para que esse momento de alimentação não seja apenas nutrição e paladar, é importante refletir sobre os hábitos alimentares e ter consciência deles. Essa reflexão pode proporcionar a sua mudança de comportamento, contribuindo para que o seu consumo seja coerente com o que você acredita. Para te dar um empurrão inicial, você pode começar refletindo sobre esses aspectos:
ANIMAIS NÃO SÃO MÁQUINAS
A forma como temos tratado os animais na pecuária não considera o bem-estar deles, e sim o lucro. Alterar suas características genéticas, alojá-los em gaiolas ou em galpões fechados, sem permitir que manifestem seu comportamento natural é tratá-los como máquinas que produzem comida, quando, na verdade, são indivíduos conscientes e com vontade própria. Fica difícil ingerir – e digerir – todo esse histórico de dor e sofrimento, não é mesmo?
SENCIÊNCIA ANIMAL É UMA REALIDADE
A senciência é a capacidade de sentir, ter experiências positivas e negativas. Ser capaz de receber e reagir a um estímulo de forma consciente. A ciência considera que pelo menos todos os animais vertebrados e alguns moluscos, como o polvo, são sencientes, sendo uma postura ética evitar, sempre que possível, seu sofrimento desnecessário.
VEGETAIS TÊM PROTEÍNAS
Não é necessário comer produtos de origem animal para obter proteínas. As proteínas são compostas de aminoácidos e não existe nenhum aminoácido essencial necessário ao organismo humano que não esteja presente em diversos alimentos vegetais. Considere dietas com uma presença maior de vegetais, e a redução, ou até mesmo a exclusão, de alimentos de origem animal.

ACOMPANHE OS COMPROMISSO DA INDÚSTRIA
Ser um consumidor mais coerente passa por buscar informações das empresas fornecedoras de alimentos. Quanto mais transparente a empresa é sobre seus processos e compromissos, melhor. Para facilitar essa busca, acesse a plataforma Observatório Animal, e veja quais empresas já se comprometeram a adotar políticas de bem-estar de suínos e galinhas poedeiras.
Alimentar-se é um ato político. Coma com sabedoria.