# Uma Só Terra
Povos Indígenas: a cura da Terra
Assista ao vídeo-manifesto “Povos Indígenas: A cura da terra” de autoria da ativista e comunicadora indígena Samela Sateré-Mawé em parceria com a organização de proteção animal e ambiental Alianima para o Dia Mundial do Meio Ambiente 2022, data promovida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cujo tema será “Uma Só Terra” , que nos convida a refletir sobre a necessidade de vivermos de forma sustentável em harmonia com a natureza.
Povos Indígenas: a cura da Terra
Autoria: Samela Sateré-Mawé
“Quando a gente é criança na aldeia, não tem alegria maior do que brincar no rio com as outras crianças: me lembro de competir pular dos galhos das árvores direto no rio. Naquela época, pensávamos que o mundo todo estava ali, entre matas, animais, crianças e água.
Algum tempo depois, fomos inundados com as notícias sobre dragas de garimpo, em frente às aldeias que ficam no território Yanomami. Dragas essas capazes de sugar e matar crianças. Diante dos fatos criminosos, pensei: se uma criança não pode nem brincar no seu território, seu lar, onde estaremos seguros?
Para nós, povos indígenas, nossos territórios são uma extensão de nossos corpos: não há diferença entre os seres vivos, todos fazemos parte da mesma ordem, em que nenhum ser vale mais que o outro. Para nós, não há diferença entre uma árvore, um humano ou uma pedra.
Estamos todos conectados.
No entanto, mais do que nunca os nossos territórios (e corpos) estão sendo ameaçados. Não apenas com o garimpo, mas também com o avanço da pecuária, que se desdobra em desmatamento, arrendamentos de terra e grilagem. Nossas terras estão sendo roubadas para criação de gado e monoculturas, como soja e milho. Nossa biodiversidade está sendo atacada pelo apetite voraz pela carne brasileira.
Precisamos lembrar que nossa floresta está perdendo toda sua vivacidade para a pecuária, que incentiva o desmatamento, queimadas e contribui diretamente para as mudanças climáticas, através da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera.
Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), só no mês de abril de 2022 foram 1.012 quilômetros quadrados perdidos, número 74% maior do que o recorde anterior para o mês. Além disso, percebemos na pecuária uma forma de tratamento aos animais que não condiz com nossa forma de enxergá-los: é uma indústria que os maltrata desde o nascimento até a morte.
É preciso entender a importância de nós, povos indígenas, para a proteção da natureza.
Nossa luta é constante pela demarcação dos nossos territórios, que nos dão a vida, que são nossas raízes, nossa própria terra, nossos frutos, nossa água e nossas sementes. Nessa luta por demarcação, muitos dos nossos foram e estão sendo dizimados. Dizimam nossos corpos, corpos que são extensão da natureza.
Em 2022, celebramos os 50 anos da institucionalização do Dia Internacional do Meio Ambiente, cujo tema deste ano é “Uma só Terra”. Nessa data, proponho uma reflexão: estamos realmente defendendo o meio ambiente? Se nossos povos, que são a própria floresta, que são “corpos-territórios” estão sendo ameaçados e mortos cotidianamente?
Estamos realmente habitando uma só terra? Ou estamos completamente desconectados?
Nossa mensagem é urgente: nós, povos indígenas, somos os principais afetados pelo efeito das decisões de grandes líderes políticos e empresários. É preciso que nossos corpos territoriais ocupem todos os espaços de tomadas de decisões, para que realmente possamos viver em “uma só Terra”.
E deixo aqui um chamado para dividirmos a responsabilidade dessa conta: se tudo que fazemos é político, a forma como nos alimentamos também é. É preciso nos questionar diariamente se nossas escolhas pessoais não estão custando a vida de povos indígenas, de animais e de todo o meio ambiente.
Somos parte do problema e também da solução.”