Relatório visa monitorar a evolução das grandes empresas comprometidas publicamente em implementar práticas sustentáveis para o bem-estar animal na suinocultura.
São Paulo, novembro de 2023 – A Alianima, organização sem fins lucrativos de proteção animal, anuncia o lançamento da 4ª edição do Observatório Suíno. O relatório, que tem periodicidade anual, acompanhou a evolução de grandes empresas do setor comprometidas publicamente em implementar políticas de bem-estar animal.
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A suinocultura no Brasil
O Brasil é destaque no cenário global da suinocultura e ocupa a quarta posição entre os maiores produtores e exportadores de carne suína do mundo, ficando atrás de China, União Europeia e Estados Unidos. Em 2022, o país alcançou a produção de 4,9 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 6% em relação a 2021. Desse total, cerca de um quarto foi destinado à exportação para mais de 80 países.
Em relação ao mercado doméstico, o consumo por pessoa de carne suína foi de aproximadamente 18 kg, em 2022, representando um aumento de 7,8% em relação ao ano anterior, conforme dados fornecidos pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
As práticas de bem-estar animal nos sistemas de produção de carne suína são essenciais, pois além de proporcionar melhorias na qualidade de vida dos animais, mantêm a competitividade do Brasil em âmbito global. Como exemplo desse tipo de boas práticas está a proibição do uso de celas na gestação de suínos. Diversos países como Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça, Reino Unido e alguns estados dos Estados Unidos já não permitem tal ação.
“Os consumidores estão cada vez mais conscientes e preocupados em relação aos produtos que compram e consomem em suas refeições, exigindo transparência por parte da indústria em relação ao tratamento concedido aos animais”, afirma Patrycia Sato, presidente e diretora técnica da Alianima.
Relatório Observatório Suíno 2023
Neste ano, 29 empresas foram contatadas, sendo 7 fornecedores, que são as empresas envolvidas diretamente na produção e processamento de carne suína, e 22 clientes, como restaurantes e varejistas, que adquirem carne suína desses fornecedores. Seis empresas da lista de clientes foram contatadas pela primeira vez para participar do Observatório Suíno.
Comparado ao ano anterior, o relatório apresentou um aumento de 26,1% em relação às empresas abordadas em 2022, acréscimo que se deu em função aos compromissos publicamente anunciados no grupo de clientes, que reflete mais seriedade e comprometimento corporativo com o tema.
No grupo de fornecedores, os maiores frigoríficos do Brasil participaram do Observatório deste ano: Alegra Foods – Castrolanda; Aurora Coop; BRF S.A. (Sadia e Perdigão); Seara (JBS) e Pamplona Alimentos S.A. A Frimesa Cooperativa Central e Pif Paf Alimentos S.A também foram abordadas mas não responderam.
Entre os clientes, participaram: Arcos Dorados (McDonald’s); B.LEM Padaria Portuguesa; Brazil Fast Food Corporation – BFFC (Bob’s); Dídio Pizza; Forno de Minas; GPA (Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem); Grupo Carrefour Brasil (Atacadão, Carrefour, Sam’s Club, Nacional, Super BomPreço e TodoDia); Grupo Dia; Hippo Supermercados; Hotel Unique; Marfrig Global Foods S.A; As empresas Bloomin’ Brands (Outback Steakhouse e Aussie Grill); Burger King; Casa do Pão de Queijo; Ciao Pizzeria Napoletana; Grupo Madero; Grupo Trigo (antes TrendFoods – Gendai e China in Box); Halipar (Griletto, Montana Grill, Jin Jin e Croasonho); Monster Dog; St. Marché; Subway e UnidaSul também foram abordadas mas não participaram.
Banimento das celas de gestação das porcas e a migração para baias em grupo
No que diz respeito à transição para o fim das celas de gestação, é notável um avanço dos fornecedores, ainda que haja dificuldades apontadas pelo setor. Tal avanço pode ser justificado tanto por requisição das organizações animalistas, quanto por efeito da Instrução Normativa nº 113 (IN 113/2020), em vigor desde 2021, que estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal em granjas de suínos de criação comercial.
Quanto aos clientes, são positivas as elucidações e o avanço da transição, mas nota-se um déficit no domínio técnico do tema, inclusive sobre os outros aspectos de bem-estar animal e Saúde Única indagados.
Utilização de antimicrobianos na criação de suínos
A suinocultura é o setor que mais utiliza medicamentos antimicrobianos (antibióticos e quimioterápicos), pois consistem em ambientes mais restritivos e com alta densidade de animais, condições que facilitam a transmissão de doenças e tendem a causar queda de imunidade por efeito de estresse.
Embora seja um fenômeno natural de adaptação dos microrganismos (bactérias, fungos, vírus e outros parasitas), o desenvolvimento da resistência aos antimicrobianos é acelerado em decorrência do uso indiscriminado desses fármacos. Como resultado, os antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos tornam-se ineficazes e as infecções tornam-se cada vez mais difíceis ou impossíveis de tratar.
Dessa forma, a Alianima destaca a importância da Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana – RAM, campanha criada pelas organizações quadripartites – a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) – , que reforça sobre a difusão das melhores práticas de produção para prevenir a ocorrência e propagação de infecções resistentes e a redução do uso de antimicrobianos.
Houve uma evolução principalmente por parte da Arcos Dorados, Dídio Pizza e Marfrig, que passaram a exigir o fim do uso não terapêutico de antimicrobianos de seus fornecedores. Também merecem atenção pelo avanço B.LEM, Bob’s, Forno de Minas e Hippo Supermercados, que, diferentemente da edição anterior, agora responderam que visam endereçar esse tópico com fornecedores. O Hotel Unique foi a única empresa respondente que não pretende exigir.
“Por parte dos fornecedores, foi positivo constatar que a maioria não utiliza esses medicamentos como promotores de crescimento, e que alguns já pretendem banir o uso profilático e até o metafilático. É preciso testar as alternativas, que já têm sido utilizadas, de modo a efetivamente substituir os antimicrobianos. Em relação aos clientes, o resultado também foi positivo, uma vez que a maioria pretende exigir de seus fornecedores o fim do uso não terapêutico desses fármacos, dado que também têm responsabilidade na qualidade e segurança dos alimentos no contexto de Saúde Única”, finaliza Patrycia.
Confira o material completo da 4ª Edição do Observatório Suíno pela landing page http://observatoriosuino.com.br/