De acordo com a 5ª edição do “Observatório Suíno”, pela primeira vez, 100% das empresas participantes declararam que não realizam mais a castração cirúrgica de machos sem o uso de analgésicos/anestésicos
Nos últimos dez anos, a indústria de carne suína brasileira tem experimentado um crescimento consistente, fortalecendo o país como uma das principais referências globais no setor, atualmente ocupando a quarta posição no ranking mundial de produção e exportação. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 23,8% do total produzido foi destinado a aproximadamente 90 países, principalmente para a Ásia (67%), em especial China, Hong Kong e Filipinas, que adquirem respectivamente 32%, 10% e 10% das exportações brasileiras.
Com o aumento da demanda, o setor tem investido cada vez mais em inovações tecnológicas e práticas sustentáveis para atender a um mercado internacional cada vez mais exigente, que têm se intensificado à medida que os padrões se tornam cada vez mais rigorosos. Dessa forma, o Observatório Suíno – nosso relatório anual – chega em sua 5ª edição e acompanha a evolução das empresas em operação no Brasil que, até o primeiro semestre de 2024, se comprometeram publicamente a eliminar as celas de gestação na indústria de carne suína brasileira.
“Tais restrições refletem uma crescente pressão por parte de consumidores e autoridades reguladoras para que as práticas de manejo animal sejam mais humanitárias, incentivando a adoção de sistemas alternativos de alojamento, como baias coletivas, que promovem maior mobilidade e interação social entre os suínos”, ressalta Patrycia Sato, médica veterinária e diretora técnica da Alianima. Segundo Sato, para os fornecedores brasileiros, essas exigências internacionais representam não apenas desafios operacionais, mas também oportunidades de alinhamento com as tendências globais de produção sustentável e ética – essenciais para garantir a competitividade no comércio internacional.
Países como Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça, Reino Unido e alguns estados dos Estados Unidos implementaram legislações que proíbem o uso de celas de gestação, um sistema de confinamento intensivo frequentemente utilizado para o manejo de fêmeas gestantes. A União Europeia, desde 2013, restringe essa prática, permitindo o uso apenas nos primeiros 28 dias após a cobertura.
Nacionalmente, a Instrução Normativa Nº 1132 publicada em 2020 pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e em vigor desde 2021, estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal em granjas de suínos de criação comercial. Embora seja considerada um avanço, seus prazos de adaptação são excessivamente longos, tendo em vista que as principais corporações e cooperativas brasileiras produtoras de carne suína se comprometeram a eliminar as celas de gestação entre 2025 a 2029.
Desde 2020, o Observatório Suíno aplica dois questionários distintos: um para fornecedores de carne suína, e outro para compradores (clientes), como restaurantes e varejistas. Neste ano, um total de 33 empresas foram abordadas, sendo 8 fornecedores e 25 clientes – um aumento de 13,8% em relação à edição anterior, por conta de mais compromissos de bem-estar de suínos em ambos os grupos. Pela segunda vez, dentre todas as edições do relatório, houve 100% de respostas do grupo dos fornecedores.
Alojamento na gestação
Com o intuito de obter uma melhor visualização proporcional do número de porcas alojadas em grupo durante a gestação em relação ao total de porcas alojadas por cada empresa, foram perguntados ambos os números absolutos aos fornecedores.
Observando os valores em uma análise de evolução individual ao longo dos anos, desde a primeira edição do Observatório Suíno, em 2020, nota-se que as empresas que mais avançaram com a transição para baias coletivas foram: Pamplona (94%), Aurora (85%) – apesar de ter estagnado nos últimos dois anos –, e JBS (84%).
Apesar dos avanços significativos, algumas empresas relataram dificuldades para prosseguir com a transição para alojamento coletivo, exceto pela Pamplona, que pelo segundo ano consecutivo, foi a única que não reportou nenhum entrave. Dos respondentes, 75% afirmaram que a falta de financiamento é o maior obstáculo. Na sequência, a precificação do produto final (50%) e o planejamento das instalações (38%) surgem como outros desafios.
Outro ponto importante abordado no relatório é em relação ao período em que as porcas permanecem nas celas entre o fim da maternidade e a inseminação para o próximo ciclo – tendo isso que ser feito o mais breve possível. Por isso, também foram indagados os fornecedores sobre a distribuição das porcas em cada período, e a intenção de reduzir para o sistema “cobre e solta”. Mesmo empresas que responderam não aplicar o manejo, manifestaram pontos negativos, como perdas reprodutivas, dificuldade em manter o escore corporal adequado das porcas e em detectar doenças. Quanto aos fornecedores que já utilizam o “cobre e solta”, as vantagens não se basearam apenas em questões de bem-estar e saúde física e mental, mas também melhor performance das porcas, menor custo operacional e facilitação do manejo.
Pela primeira vez, o Observatório Suíno questionou as empresas sobre oferta de mais espaço físico para as porcas na maternidade e idade média de desmame dos leitões
De acordo com a diretora técnica da Alianima, as celas na maternidade são problemáticas assim como as de gestação, pela limitação de espaço, mas também porque, nessa fase, as porcas sentem necessidade de formar um ninho em um local tranquilo e recluso, para poder parir seus leitões com um mínimo de conforto e segurança, o que não é possível da forma como são alojadas pela indústria.
Foto: We Animals Media
Um aspecto positivo evidenciado nesta edição foi que quase metade dos fornecedores participantes declarou a intenção de fornecer mais espaço físico para as porcas na maternidade: 38%, ou seja, três das oito empresas – Alibem, BRF e Pamplona –, possuem planos futuros de fornecer mais espaço para as porcas na maternidade, com pelo menos 4,32 m2.
E em relação à idade média de desmame, a própria IN 113 já prevê uma adaptação do setor para pelo menos 24 dias de vida, mas determina um prazo demasiadamente longo para essa implementação, até o ano 2045. “O desmame se trata de uma etapa estressante, por conta da separação da mãe, mudança de instalação e de alimentação, e mistura com outros animais. Quando realizado precocemente, pode prejudicar o desenvolvimento dos leitões, trazendo desafios significativos a sua saúde, bem-estar e interferindo até em seu comportamento. É preciso que o seu sistema digestório e imunológico estejam suficientemente preparados, além de ser preferível que já estejam socializados, antes desse manejo”, salienta Sato.
Em contrapartida, as outras práticas realizadas rotineiramente na maternidade não evoluíram de maneira relevante, como a abolição do desbaste de dentes, do corte de cauda, e da mossa (esta última inclusive prevista na IN 113). Seguindo na mesma linha, o uso de antimicrobianos também não reduziu expressivamente, permanecendo um desafio sistêmico para conciliar a manutenção da saúde dos animais e a atenuação dos impactos da utilização inadequada desses fármacos na esfera da Saúde Única.
“Embora ainda haja desafios, as iniciativas voltadas para a promoção do bem-estar animal são vistas não apenas como um passo importante para fortalecer a imagem da carne suína brasileira no mercado internacional, mas também como uma medida essencial para garantir melhores condições de vida aos animais. A adoção de práticas mais humanitárias e sustentáveis no manejo contribui para a saúde e o conforto dos animais, refletindo diretamente na produtividade e na qualidade do produto final. Além disso, essas iniciativas atendem a um consumidor cada vez mais consciente das questões éticas e ambientais, evidenciando o compromisso do setor com a responsabilidade social e ambiental”, conclui Patrycia Sato.
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