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19 de fevereiro, 2025

uso excessivo de antimicrobianos na ração dos peixes pode propiciar o surgimento de superbactérias

A primeira edição do “Observatório do Peixe” desmistifica a ideia de que todo peixe que consumimos é obtido por meio da pesca e evidencia o crescimento da piscicultura como sistema de produção de pescado

Em 2022, pela primeira vez na história, a produção de animais aquáticos na aquicultura superou a pesca, atingindo um total de 94,4 milhões de toneladas, o que representa 51% do total mundial com uma estimativa global de 46,3% de crescimento até 2030. No Brasil, a produção de peixes em piscicultura atingiu quase 890 mil toneladas em 2023, o que significa um crescimento de 3,1% em relação ao ano anterior, sendo o consumo per capita de 4,35 kg.

Se os números da aquicultura brasileira representam o potencial econômico desse setor, por outro lado, esse rápido crescimento não acompanha práticas sustentáveis de produção, com um custo significativo para os peixes. Segundo o nosso relatório, “Observatório do Peixe”, a falta de padronização e regulamentação das práticas na criação de peixes leva a variações extremas nas condições de vida desses animais. Problemas como superlotação, falta de enriquecimento ambiental e manejo e transporte inadequados são comuns nas fazendas de piscicultura, resultando em altos níveis de estresse e sofrimento para os peixes.

A qualidade da água, essencial para a saúde dos peixes, muitas vezes não recebe a devida atenção. Nos sistemas de produção, a manutenção de parâmetros da água como oxigênio dissolvido, pH e temperatura dentro dos níveis ideais para a espécie é fundamental para evitar estresse, doenças e mortalidade. Embora essa já seja uma preocupação comum dos produtores, o relatório aponta que esses parâmetros nem sempre são rigorosamente controlados e monitorados, o que compromete o bem-estar dos animais e a produtividade.

Observatório do Peixe

Foto: We Animals Media

De acordo com a Profa Dra Eliane Gonçalves de Freitas, Bióloga e Livre-Docente em Comportamento Animal na Unesp, as atividades aquícolas dependem de água de alta qualidade, seja água doce ou marinha. “O que vemos hoje é um aumento alarmante da poluição dos rios e mares, além da escassez de água doce, provocada principalmente pelo desmatamento desenfreado. Nesse contexto, a degradação ambiental constitui uma grande ameaça ao bem-estar dos peixes. Não é novidade que as atividades pecuaristas carecem de soluções sustentáveis. Assim como na pecuária, o futuro da aquicultura depende, não só do bem-estar dos animais, mas, também, da consciência ambiental para enfrentar a crise hídrica.”

Outro ponto crítico destacado pelo relatório é a alimentação dos peixes. Práticas inadequadas, como o fornecimento excessivo de ração com antibióticos, podem não apenas prejudicar o bem-estar dos peixes, mas também propiciar o surgimento de superbactérias prejudiciais à saúde.

“A prevenção de doenças é um dos princípios básicos para a utilização racional dos antimicrobianos. Peixes em alto grau de bem-estar têm seu sistema imunológico mais funcional, o que propicia a diminuição da ocorrência de doenças, levando a uma menor necessidade de utilização de medicamentos, como os antibióticos. Isso auxilia na contenção da resistência antimicrobiana. O poder das boas práticas para prevenir as doenças deve orientar o desenvolvimento sustentável da aquicultura nos próximos anos.”, ressalta o Prof Dr Leonardo José Gil Barcellos, Médico Veterinário e Docente na UPF.

A questão do espaço e da densidade de estocagem também é abordada no relatório, já que as superlotações nas fazendas de produção são frequentemente superiores às densidades encontradas na natureza, o que pode gerar estresse e até mortalidade. O relatório sugere que os produtores ajustem essas densidades de acordo com as necessidades biológicas das espécies criadas, respeitando seus comportamentos naturais e estágios de vida.

Outro ponto fundamental abordado é a importância do enriquecimento ambiental, técnica que visa tornar o ambiente de criação mais estimulante para os peixes. A adição de elementos que estimulam comportamentos naturais das espécies, como substratos e estruturas para refúgio, pode reduzir comportamentos anormais e melhorar o bem-estar desses animais. Contudo, essa prática ainda é pouco adotada na piscicultura brasileira.

Um dos momentos mais críticos para o bem-estar dos peixes é o processo de insensibilização e abate. Métodos inadequados, como a asfixia em gelo, ainda são amplamente utilizados no Brasil, causando grande sofrimento aos animais. A Alianima defende o uso de técnicas cientificamente validadas, como a insensibilização elétrica ou mecânica seguida pela decapitação ou sangria dos peixes, que garantem um processo de abate imediato e efetivo, minimizando a dor e o estresse.

Também há desafios no manejo e transporte dos peixes. Esses procedimentos devem ser realizados pelo menor tempo possível e com o mínimo de estresse, além de envolverem o uso de técnicas como a anestesia prévia, que pode ser fundamental para reduzir o sofrimento dos peixes durante o processo. A organização também recomenda que os produtores fiquem atentos às densidades de transporte, uma vez que densidades muito elevadas são mais estressantes e pioram a qualidade da água.

No território brasileiro, a falta de legislação específica sobre o bem-estar dos peixes agrava ainda mais a situação. O relatório da Alianima destaca que o Brasil, assim como muitos países, ainda não possui regulamentações específicas que garantam a proteção desses animais na produção e na pesca. A Portaria 365/2021 do MAPA, que regulamenta o manejo pré-abate e abate humanitário, exclui os peixes, deixando-os desprotegidos sob a norma. Diante desse cenário, a organização tem desempenhado um papel fundamental na promoção do bem-estar dos peixes.

“O Ministério da Pesca e Aquicultura apoia iniciativas como a da Alianima de criar o Observatório do Peixe, para que os produtores e os demais componentes da cadeia de pescado, consumidores, técnicos, pesquisadores, representantes do governo e do terceiro setor possam discutir os diversos aspectos da sustentabilidade da pesca e aquicultura, como a questão do bem-estar animal; pois o uso de animais aquáticos nos cultivos traz consigo uma responsabilidade ética de garantir o seu bem-estar, promovendo o desenvolvimento sustentável da aquicultura, assim como a segurança e competitividade de seus produtos”, afirma Tereza Nelma da Silva Porto Viana Soares, Secretária Nacional de Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura.

“Acreditamos que, em um cenário sem respaldo legislativo, atuar no cenário das políticas públicas e, futuramente, conseguir compromissos de bem-estar junto aos produtores, varejistas e atacadistas, são essenciais para promover mudanças significativas na indústria de pescado”, finaliza Caroline Maia, Especialista em peixes da Alianima.

Assista ao seminário “Bem-Estar de Peixes: Questões Práticas na Produção”:

Clique para acessar o relatório completo.

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Imagem: Freepik

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